Considerando a chegada dos espanhóis ao estuário do Rio da Prata, em 1516, e a fundação do que hoje chamamos Argentina, apenas 16 anos após a chegada dos portugueses ao Brasil, é difícil pensar que uma cidade tenha quase a idade de quem escreve e de quem lê esse texto. Trata-se de El Chaltén, a mais jovem cidade da Argentina, com história iniciada em 1985, em fundação realizada exclusivamente para a manutenção da soberania argentina em relação aos territórios disputados com o Chile, na chamada fronteira patagônica. Outra curiosidade é que a cidade tem menos habitantes que o bairro em que você mora: no inverno, o censo registra pouco mais de 500 pessoas na fria cidade.
Justo por seu clima gélido, o maior período de chegada de turistas é a temporada de verão, quando amantes de trekking – já que El Chaltén é considerada a capital argentina na modalidade – e montanhistas em geral invadem a cidade repleta de incríveis lagos, geleiras e, claro, montanhas dignas de uma das cenas do filme O Senhor dos Anéis, com paredes de gelo e rocha exploradas por amantes de montanhismo desde a década de 40. Destaque para o Cerro Torre, considerada, por especialistas, como uma das mais difíceis montanhas do mundo. Com grande destaque, também, para as montanhas El Chaltén – homônima a cidade – e Cerro Fitzroy.
Vale ressaltar que El Chaltén é dividida entre montanhistas especialistas, ou seja, aqueles capazes de enfrentar grandes desafios e esportistas amadores. Aos primeiros, estão destinadas as três montanhas citadas anteriormente. Aos turistas, com características amadoras, quando o assunto é o esporte, a dica é aproveitar os trekkings que fiquem perto de suas bases de estadia. O divertido passatempo será coroado pelo contato com a natureza e pelos conhecimentos de geologia e da fauna e flora locais, concedidos por um bom guia. Além das curiosidades que ouvirá sobre a formação das geleiras, o passeio contará com a presença de raposas, patos selvagens, pica-paus e pequenos mamíferos, como os pumas.
A chegada a El Chaltén, diferente de 1940, pode ser considerada bem mais tranquila: por voos regulares da Aerolineas Argentinas, vindos do Aeroparque de Buenos Aires e que desembarcam no moderno aeroporto El Calafate, que fica a 200 km da cidade. Dali, pegue um dos ônibus da Ruta 40 ou a Ruta 23. Chegando à cidade, a palavra de ordem é pés no chão. É isso mesmo: nada de transporte. Toda a cidade pode ser conhecida com seus pés em caminhada. Tão simples como circular pela cidade é o perfil da maioria dos turistas: mochileiros em busca de aventura, sem preocupação com luxo ou as reconhecidas experiências gastronômicas da capital do país, Buenos Aires.
Falando em comer, entre as opções, destaque para a praça principal, bem como a Avenida San Martín, com vasta opção de restaurantes que servem as tradicionais parrillas e empanadas argentinas, além de sopas, pizzas e galetos, tudo com preços justos. No entanto, se você pretende investir um pouco mais em alimentação, não deixe de provar os cordeiros que são assados em uma fogueira no chão e são servidos com os saborosos vinhos argentinos. As palavras de ordem, quanto a refeições são: calorias, para ingerir e gastar, e praticidade. Conceitos facilmente aplicados pelos estabelecimentos e pelas cozinhas dos hotéis locais.
E, citando hotéis, saiba, aqui, “onde ficar”. Esqueça as luxuosas pousadas e hotéis de El Calafate. O que reina em El Chaltén são as acomodações básicas que, embora simples, são confortáveis. Os quartos, claro, contam com calefação e pacotes que incluem um bom café da manhã e áreas comuns com lareiras e, até, banheiras com jacuzzi, ideais para um dia na montanha, sob frio. Caso você prefira economizar ou quer otimizar o tempo para explorar as montanhas, a opção é abrigar-se em um dos campings da cidade ou mesmo em hostels e suas características típicas a qualquer lugar do mundo: cerveja, beliches e calor humano.